terça-feira, 4 de novembro de 2008

Só e sempre para ti Joaquim

A fragilidade humana é imensa.

Somos dependentes dos outros.

Vivemos para amar e para receber o amor que nos dão.

Amigos, família, o artigo definido que acompanha o nosso nome.

Vivemos em grupo e sentimos aos pares.

Dói quando nos esquecem.

 

Quando crescemos juntos,

Mas sabemos que não vamos envelhecer em conjunto.

Dói ter chorado num ombro que já não é nosso.

Dói ter posto a mão no fogo e já sermos só cinzas.

Dói ter uma certeza de uma década que se dissipa.

Não ter palavras e ficar apenas um silêncio incómodo.

 

Não saber o que dizer, nem o que responder.

Ter vontade de esquecer e ultrapassar,

Mas não nos deixarem consegui-lo.

Dói saber que prescindem de nós como de um objecto,

Saber pelos outros que uma das nossas certezas,

Mais não era que uma ilusão,

Uma utopia.

 

E que todas as lágrimas,

Todos os sorrisos,

Todos os momentos,

Todas as saudades,

Todas as palavras,

Todas as cartas cheias de cores,

Todas as vezes que virámos a cabeça para olhar para trás,

Para confirmar que a amizade estava mesmo ali,

À distância de um gesto,

Foi apenas um erro.

 

E que esse erro,

Se camufla de arrependimento,

De um arrependimento tão oco,

Que nem as memórias mais fortes o podem sustentar.

Aí dói mais.

Saber que o arrependimento é uma palavra,

Acompanhada de pensamentos antónimos.

Que um sim é um não.

E que um não é um sim.

 

Dói olhar e não reconhecermos

A segurança,

O olhar,

As sardas,

A voz,

de antes.

Saber que o que foi, já não é.

Nunca mais.

E que até as nossas memórias não são fidedignas.


Inês Teixeira Botelho


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