A fragilidade humana é imensa.
Somos dependentes dos outros.
Vivemos para amar e para receber o amor que nos dão.
Amigos, família, o artigo definido que acompanha o nosso nome.
Vivemos em grupo e sentimos aos pares.
Dói quando nos esquecem.
Quando crescemos juntos,
Mas sabemos que não vamos envelhecer em conjunto.
Dói ter chorado num ombro que já não é nosso.
Dói ter posto a mão no fogo e já sermos só cinzas.
Dói ter uma certeza de uma década que se dissipa.
Não ter palavras e ficar apenas um silêncio incómodo.
Não saber o que dizer, nem o que responder.
Ter vontade de esquecer e ultrapassar,
Mas não nos deixarem consegui-lo.
Dói saber que prescindem de nós como de um objecto,
Saber pelos outros que uma das nossas certezas,
Mais não era que uma ilusão,
Uma utopia.
E que todas as lágrimas,
Todos os sorrisos,
Todos os momentos,
Todas as saudades,
Todas as palavras,
Todas as cartas cheias de cores,
Todas as vezes que virámos a cabeça para olhar para trás,
Para confirmar que a amizade estava mesmo ali,
À distância de um gesto,
Foi apenas um erro.
E que esse erro,
Se camufla de arrependimento,
De um arrependimento tão oco,
Que nem as memórias mais fortes o podem sustentar.
Aí dói mais.
Saber que o arrependimento é uma palavra,
Acompanhada de pensamentos antónimos.
Que um sim é um não.
E que um não é um sim.
Dói olhar e não reconhecermos
A segurança,
O olhar,
As sardas,
A voz,
de antes.
Saber que o que foi, já não é.
Nunca mais.
E que até as nossas memórias não são fidedignas.
Inês Teixeira Botelho
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