segunda-feira, 12 de abril de 2010

Atitudes

A maior parte das vezes as minhas atitudes não são as mais correctas. Tenho muito pouca falta de controlo, não consigo manter a calma e a explosão é instantânea. Mas muitas vezes essa minha fúria faz-me ver aquilo que está escondido nos outros, aquilo que eles escondem e enganam.
É certo que não me portei bem, disse coisas que não devia - mas sentia - só que manter a calma nem sempre é a melhor solução. Se não insistisses tanto em manter a calma talvez eu não me tivesse iludido tanto tempo em relação a ti. Não és quem eu pensava, não te conheço e melhor, não gosto de ti. Isso para mim é um alívio.
No fundo espero que sejas feliz. O que te disse apenas significava em fúria que nós realmente não temos nada a ver um com o outro. Eu sinto-me agora melhor sem ti e ainda melhor por te ter dito o que disse. Era o que merecias. Não aguentava mais que me tentasses fazer passar por estúpida. Odeio que me mintam e que me tentem enrolar com conversas. As coisas são o que são. Cada um tem a sua visão delas, mas são assim. E a verdade é que me senti enganada. E tu enganaste-me!
Espero que nunca venhas a ler isto, significa que ainda pensas em mim o suficiente para vires ler o meu blog e isso é triste, para ti.
Beijinhos e assim me despeço, mais uma vez.

sábado, 10 de abril de 2010

O República

«Tens a certeza de que queres combinar?»

«Tenho Madalena! Hoje às 20h no miradouro de São Pedro de Alcântara. Lá te espero…»

Quando fiz a pergunta não esperava uma resposta tão confiante. Naquele momento senti-me encorajada a conhecê-lo, embora o medo inundasse o meu espírito. Nunca havia estado numa situação como aquela, combinar um encontro com alguém que conhecera na internet era algo que sempre condenara e agora estava nessa posição.

A conversa tinha-se passado durante a tarde de trabalho, o que me dava cerca de 4 horas para me adaptar à ideia de que o encontro se ia definitivamente concretizar. Fui de lá directa para casa, onde me arranjei com pressa e saí. Teria que levar o carro para o encontro com o Afonso pois o local combinado ainda era longe.

A ideia de ir viver para Oeiras tinha sido do meu ex-marido e, desde que deixáramos de viver juntos que pensava em voltar a viver na cidade mas ainda não tinha encontrado nenhum espaço simpático para uma mulher divorciada e sozinha como eu. Lembrava-me agora de como havia sido difícil para mim a separação. Desde os 16 anos que namorávamos. Decidimos casar 10 anos mais tarde e os 10 seguintes levaram ao desentendimento. As tentativas falhadas de ter um filho foram a razão que encontrámos para culpar a nossa separação. Confiara apenas num homem em toda a minha vida, e essa confiança fora quebrada no momento em que ele encontrou outra pessoa que foi capaz de lhe dar aquilo que eu não consegui, uma família. Desde esse momento que não estava com ninguém e a vontade para novas aventuras não existia, até encontrar Afonso.

Cheguei ao miradouro e procurei-o. Já nos tínhamos visto diversas vezes durante as nossas conversas on-line. O seu aspecto limpo e organizado agradava-me e os seus cabelos e barba grisalha sempre aparados provocavam-me arrepios que naquele momento se tornaram mais reais quando os nossos olhos se cruzaram. O efeito que queria provocar com o vestido azul-turquesa da cor dos meus olhos, contrastando com o meu cabelo preto, verificava-se. Afonso parecia vidrado, o que me agradou.

Cumprimentámo-nos e seguimos em direcção ao restaurante que ele havia marcado. Parámos no caminho para observar a vista, o céu estava limpo e a lua magnífica. O momento parecia perfeito. Com o seu charme incessante, pediu para guardarem o meu casaco juntamente com a sua gabardine cor de caramelo. A sua elegância era constante. O jantar correu com primor e a conversa fluiu como se nos conhecêssemos de sempre.

Depois de um jantar interessante, pareceu até natural a proposta de irmos até um hotel. Chamava-se “O República”, não o conhecia mas existia para agradar os românticos repentinos. Entrava-se de carro, entrámos, pagava-se com o cartão de crédito, paguei pois ele havia deixado o seu no restaurante por engano, subia-se sem alguma vez se ser visto, e subimos. Partilhei com Afonso que me sentia como uma adolescente, e sentia. Ele confidenciou-me a mesma sensação. A paixão que existia virtualmente através de dois computadores parecia tornar-se possível. O amor aconteceu.

Mais tarde senti-me a acordar, mas estava errada. Vi-me deitada na cama do hotel, o sangue era demasiado para o conseguir focar. Afonso não estava, em vez dele uma multidão enorme rodeava aquilo que deixava a pouco e pouco de ser eu. Ainda consegui perceber a conversa entre polícias. Afonso era um serial killer que atacava através da internet mulheres divorciadas com alguma falta de atenção. Vítimas fáceis, ouvi. Nunca me julguei uma vítima, muito menos fácil. Nunca me imaginei assim, deitada. Nunca havia confiado antes. Depois destes pensamentos, nunca mais sofri.


Sofia Leite